“A entrevista é um método de recolha de informações que consiste em conversas orais, individuais ou de grupos, com várias pessoas selecionadas cuidadosamente, cujo grau de pertinência, validade e fiabilidade é analisado na perspetiva dos objetivos da recolha de informações" (Ketele, 1999, p. 18).

Moser e Kalton (1971, p. 271) descrevem a entrevista como "uma conversa entre um entrevistador e um entrevistado que tem o objetivo de extrair determinada informação do entrevistado" (citado por Bell, 2010, p.138).

Wiseman e Aron (1972) comparam a condução de uma entrevista com uma expedição piscatória e Cohen (1976, p. 82) acrescenta que, "tal como a pesca, a entrevista é uma atividade que requer uma preparação cuidadosa, muita paciência e experiência considerável se a eventual recompensa for uma captura valiosa" (citado por Bell, 2010, p.138).

 Em investigação qualitativa, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas: constituir a estratégia dominante para recolha de dados ou utilizadas em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas. Em todas estas situações, a entrevista é usada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo.


Construção e aplicação

A construção da entrevista obedece aos mesmos critérios de construção do questionário: conhecimento das teorias existentes a respeito do objeto de estudo, clarificação deste, elaboração de um sistema conceptual, definição das variáveis a operacionalizar.

No que se refere à aplicação da entrevista, a complexidade é maior do que em relação ao inquérito por questionário.

A aplicação da entrevista exige uma preparação muito cuidadosa dos entrevistadores, quer a nível de conhecimento quer dos comportamentos necessários face ao entrevistado.

A linguagem tem de ser compreensível para os entrevistados.

A ordem de realização das perguntas deve ser bem pensada, pois pode ser importante para estabelecer um relacionamento fácil com o entrevistado. A forma como as perguntas são feitas é também muito importante.

A entrevista e a gestão do tempo devem ser treinadas de modo a garantir que o estilo de entrevista a ser usado é claro, põe à vontade o entrevistado e permite registar as respostas de forma a saber quando a entrevista chegou ao fim.

O entrevistador deve evitar, tanto quanto possível, perguntas que possam ser respondidas com "sim" e "não", uma vez que os pormenores e detalhes são revelados a partir de perguntas que exigem exploração.

 
 

Parcialidade

Há sempre o perigo de a parcialidade se imiscuir nas entrevistas, pois os entrevistadores são "seres humanos e não máquinas" (Selltiz et al., 1962, p. 583, citado por Bell, 2010, p. 141-142).

Muitos fatores podem influenciar as respostas dos entrevistados. Borg (1981, p. 87, citado por Bell, 2010, p. 142) chama a atenção para alguns problemas que podem ocorrer:

"A ansiedade do entrevistado por agradar ao entrevistador, um ligeiro antagonismo que por vezes surge entre o entrevistador e o entrevistado ou a tendência do entrevistador para procurar fundamentar as suas noções preconcebidas são apenas alguns factores que podem contribuir para a análise parcial dos dados obtidos do entrevistado. Estes factores são designados pelos investigadores pesquisas por efeito de resposta".

Gavron (1966, p. 159, citado por Bell, 2010, p. 142) afirma que "é difícil evitar completamente este factor (isto é, a parcialidade), mas estar ciente dos problemas e exercer um controle constante sobre nós próprios pode ajudar".

Registo e verificação

Ao optarmos por um formato estruturado que permita assinalar as respostas num questionário ou lista previamente preparados, no final da entrevista, ter-se-á um conjunto de respostas facilmente analisáveis. Se optarmos por uma abordagem menos estruturada, ter-se-á a necessidade de um processo de registo de respostas.

Alguns investigadores gravam as entrevistas com autorização dos entrevistados, analisando, após transcrição, as respostas. Outros definem e adotam sistemas estenográficos, podendo, posteriormente, produzir um bom registo do que foi dito acerca de áreas-chave da entrevista.

As afirmações usadas como citações diretas devem sempre ser verificadas com o entrevistado.

 

Tempo, local e estilo da entrevista

Escolher um local e uma hora em que não venha a ser perturbado e adaptar-se à disponibilidade do entrevistado.

É difícil estipular regras para a condução de uma entrevista, sendo o senso comum e as regras normais de boa educação boas estratégias, havendo, contudo, dois atos de cortesia que também devem ser sempre observados: apresentar-se e explicar o objetivo da investigação, mesmo que se tenha enviado uma carta oficial introdutória.

É importante que se seja claro quanto ao uso que se irá fazer da informação e verificar se as citações e pontos de vista têm de ser anónimos ou se os autores podem ser identificados.

A responsabilidade de terminar a entrevista é do entrevistador e não do entrevistado. Johnson (1984, p. 14-15, citado por Bell, 2010, p. 144-145), a este propósito, afirma:

"É possível que inicialmente tenha sido difícil negociar o acesso a um determinado indivíduo, mas o entrevistador que, uma vez aceite, permaneça até ser posto na rua trabalha mais segundo o estilo de jornalismo de investigação do que numa pesquisa social [...] Se uma entrevista durar duas ou três vezes mais do que o tempo anunciado pelo entrevistador, o entrevistado pode arrepender-se mais tarde, por agradável que tenha sido a conversa, pois adiou compromissos de trabalho e sociais. Este tipo de comportamento quebra uma das normas éticas da pesquisa social profissional, de acordo com a qual não se deve deixar a investigadores posteriores um campo de trabalho com mais dificuldades que anteriormente e com entrevistados desiludidos com a noção de participação numa pesquisa".

Fazer uma entrevista não é fácil, sendo para muitos investigadores difícil encontrar um equilíbrio entre a objetividade total e a tentativa de colocar o entrevistado à vontade.

É importante que se seja honesto quanto ao objetivo do trabalho, integridade na condução e reprodução das entrevistas e promessa de que os entrevistados poderão ver a transcrição ou a primeira versão do trabalho.

 

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